terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ficha de voo de avião que caiu em rio no Amazonas tinha contradições e omitia peso

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa), de Brasília, investiga se o acidente com o avião Bandeirante da empresa Manaus Aerotáxi, que matou 24 das 28 pessoas a bordo, foi provocado por excesso de peso. Segundo o jornal "Hoje", da Rede Globo, a cópia do manifesto de carga do avião, divulgado pela empresa Manaus Aerotáxi, revela uma série de contradições.

Clique aqui e veja imagens do resgate da aeronave

O documento, que é preenchido pelo piloto ou copiloto, informa que 26 pessoas estavam a bordo (20 da mesma família) - duas a menos do que o avião transportava e oito a mais que o número de poltronas do Bandeirantes. Os campos destinados ao cálculo total do peso estão completamente vazios. ( Confira a lista das vítimas )

Anac vai apurar condições de segurança da Manaus Aerotáxi

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informa que está abrindo processo administrativo para averiguar as condições de segurança operacional da empresa Manaus Aerotáxi. De acordo com o órgão, "o prazo para terminar o processo pode variar de 1 a 6 meses, dependendo das dificuldades encontradas na averiguação".

A Manaus Aerotáxi tem cadastrados na Anac 6 aviões: 2 modelos Turbo Commander, 2 Bandeirante (além do acidentado em Manacapuru no último sábado) e 1 Xingu aguardando liberação do Certificado de Aeronavegabilidade

Segundo a Anac, a empresa opera desde 2003 e não havia, até sábado, registros de acidentes da Manaus Aerotáxi. "A mais recente auditoria da ANAC na empresa ocorreu em novembro de 2008 e não foram constatadas irregularidades que comprometessem as operações", diz a nota.

Um dos diretores da Manaus Aerotáxi, Marcos Pacheco, disse, no domingo, que a aeronave não estava com excesso de peso e que o excedente de passageiros era composto por crianças de colo. Uma portaria da Anac de 2000 permite o transporte de até 30% a mais de passageiros crianças com até dois anos. No entanto, havia crianças com mais de 7 anos viajando no colo.

A Anac informou que a obrigação de controlar a quantidade de passageiros é do piloto, o que não retira a responsabilidade da empresa proprietária da aeronave. Ainda assim, especialistas dizem que mais importante do que a quantidade de passageiros é saber o peso que o avião transportava.

O Cenipa está se concentrando na análise da caixa-preta do avião. Uma comissão de três técnicos - um de Brasília e dois de Manaus - está em Manacapuru (AM), local do acidente, e vai tentar recuperar a gravação de vozes da cabine instantes antes da queda do avião. Um relatório preliminar sobre as possíveis causas deve ser divulgado em dez dias. ( Ouça o depoimento de uma das sobreviventes )

O Bandeirante partiu de Coari na tarde de sábado com destino ao Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. Já estava a aproximadamente 20 minutos de chegar ao destino quando o piloto do avião chamou a torre de controle e avisou que iria voltar para Coari. Segundo a Aeronáutica, o piloto não explicou o motivo e nem mencionou uma suposta chuva forte naquele instante. Antes dos esclarecimentos, a comunicação foi interrompida e o Bandeirante sumiu dos radares.

Reportagem de Jailton de Carvalho, publicada na edição desta segunda-feira do jornal O Globo, mostra que técnicos do Cenipa suspeitam que o desastre foi provocado por pane num dos dois motores do aparelho. O motor teria falhado por problemas com combustível: não se sabe ainda se por falta de querosene ou por adulteração.

Sobrevivente diz que motor parou perto de Manaus

No domingo, peritos do Cenipa estavam no Instituto Médico-Legal de Coari (AM) pesando os corpos encontrados no rio Manacapuru, a 85 quilômetros de Manaus, onde o piloto César Grieger, de 47 anos, tentou fazer um pouso forçado na água. O objetivo é tentar provar o excesso de peso. A passageira Ana Lúcia Laurea, de 43 anos, uma das quatro pessoas que conseguiram sair pela porta de emergência antes de o avião afundar, disse que o problema foi no motor esquerdo.

- A hélice parou a uns 15 minutos de Manaus, e daí em diante o avião só perdeu altitude até o impacto na água.

Outra sobrevivente, Brenda Dias Moraes, 21 anos, explicou como conseguiu evitar a morte por afogamento:

- O avião foi para o fundo muito rápido, e a gente só teve chance porque estava nas últimas poltronas e abriu logo a porta - disse.

Enterro de 22 vítimas é realizado em Coari

Os corpos de 22 das 24 vítimas - que fretaram a aeronave para a festa surpresa de um parente em Manaus - foram enterrados em Coari, de onde partiu a aeronave. A prefeitura da cidade decretou luto oficial de três dias e feriado nesta segunda-feira.

Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura de Coari, houve tumulto na chegada dos corpos ao município. As vítimas, quase todas da mesma família, foram veladas em dois ginásios. Uma multidão participou do velório e seguiu em cortejo para o Cemitério Santa Tereza, onde os 22 corpos serão enterrados.

Fontes: Globo News TV / Reuters / Agência Brasil / CBN / Jornal Hoje / O Globo

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