sexta-feira, 27 de junho de 2008

Aves em aeroporto representam risco

O número de choques entre aeronaves e pássaros em Fortaleza aumentou em 2008. Em cinco meses foram seis colisões, enquanto no ano passado, nove

A Infraero se preocupa com a presença de pássaros próximo ao aeroporto

Nos cinco primeiros meses de 2008, seis aeronaves se chocaram com pássaros na pista do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza. Em 2007 foram nove colisões. Três colisões provocaram danos mais sérios nos aviões e impediram o prosseguimento da viagem. No dia 3 de janeiro, às 19h27min, um bimotor atingiu um pássaro a 500 pés de altitude no momento da decolagem. Teve que retornar. Além de problemas na hélice e na tubulação do motor, havia vazamento de combustível.

Em 11 de março, um airbus foi perfurado na asa por um pássaro às 15h26min. O rasgo feito tinha dez centímetros de diâmetro. No dia 17 de maio, às 7h35min, um Boeing da Gol Linhas Aéreas atropelou dez pombos-correios. Com danos no farol de pouso, na asa e em sensores de aproximação, a aeronave não pôde voar. O aumento dos casos neste ano preocupa a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). Em reunião com o 2º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa 2), a Infraero começou a desenhar uma estratégia para controlar o problema.

Ao contrário do que acontece em outras capitais, onde os urubus costumam protagonizar as colisões, em Fortaleza são os carcarás que mais provocam incidentes. Em um único dia, dois se chocaram com aeronaves sem provocar danos graves. Em outras cidades, são os lixões próximos ao aeroporto que atraem aves para a rota de vôo. Em Fortaleza, a causa dos incidentes é o lixo comum, doméstico, jogado em terrenos baldios no entorno do aeroporto. O lixo atrai ratos, alimento para carcarás, pombos e corujas. O problema é antigo.

Em 2004, a Infraero promoveu o mesmo seminário que realizou ontem sobre perigo aviário. "Mas os encaminhamentos não continuaram", diz o gerente de segurança, Weber Nobre Lima. No momento, o trabalho limita-se ao território do aeroporto. A Infraero coloca placas de advertência e avisos nos muros, controla as pragas, cobre as poças de água e apara a grama com uma técnica apropriada. Com a comunidade, responsável pelo lixo no entorno, o único trabalho é feito pelos jovens voluntários do programa do Corpo de Bombeiros. As ações não afugentaram as aves de rapina.

"Sozinho não conseguimos. As pessoas desconhecem o problema, não imaginam o perigo. Jogam lixo dentro do muro do aeroporto, em locais próximos às rotas de pouso e decolagem e fazem ligações de esgoto que deságuam aqui. Apesar de não viajarem, podem ser vítimas de um acidente. O avião não vai cair no aeroporto", diz Weber. O trabalho de prevenção e monitoramento tem que envolver órgãos ligados ao Meio Ambiente e à limpeza urbana e, principalmente, lideranças comunitárias. "Mas tão importante quanto envolver a comunidade, é garantir a continuidade das ações", diz o capitão Erivando Pereira de Souza, do Seripa 2, especialista em perigo aviário.

E-MAIS

Outras três colisões entre pássaros e aeronaves foram registradas no aeroporto Pinto Martins.

- 21 de janeiro, 18h57min: uma aeronave internacional colidiu com um pássaro no momento do pouso. Não houve nenhum dano e o avião seguiu para Guarulhos.

- 13 de abril, 6h15min: um boeing 737 bateu num carcará no momento da decolagem. O piloto não sentiu a colisão e seguiu viagem sem problemas.

- 13 de abril, 8h25min: no mesmo dia, na mesma área, um airbus bateu em outro carcará também decolando. Não houve danos.

No dia 13 de abril, quando duas colisões aconteceram, a grama em volta da pista estava sendo cortada, o que atraiu um bando de 18 carcarás, espantados com fogos.

No ano passado, 85 pombos foram retirados do aeroporto pelo representante da Federação dos Columbófilos, Maurílio de Oliveira. "É fácil prender pombo de rua. Você atrai com comida", diz. Toda vez que eles aparecem no aeroporto, Maurílio é chamado. No caso dos pombos-correios, todos identificados por anilhas, o criador foi identificado e o pombal foi fechado, segundo informa Maurílio. "Ninguém sabe como e por que eles chegaram aqui".

No fim da tarde, o vôo das andorinhas impressiona. São centenas de pássaros voando na área do aeroporto. A presença delas é sazonal e, segundo Weber Lima, não atrapalha os aviões. Mesmo assim, a Infraero planeja colocar tela nas tubulações onde as andorinhas pousam para que elas achem abrigo em outro lugar.

O impacto de uma ave de dois quilos equivale a sete toneladas. Mais que um tiro de revólver calibre 38.

Fonte: Jornal O Povo (CE) - Foto: Alex Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário