sábado, 4 de abril de 2009

A indústria aperta o cinto

Depois da crise, a fila para comprar um jato sumiu e sobram ofertas no mercado de segunda mão

LEGACY, DA EMBRAER: diminuição na demanda fez com que a empresa reduzisse o quadro de funcionários - Clique sobre a imagem para ampliá-la

O PACOTE DE US$ 700 BILHÕES do governo americano para sanar a crise mostra que não existe bônus sem ônus. Em um discurso ao Congresso, o presidente Barack Obama disse que "não permitirá que os banqueiros peguem o dinheiro do governo e desapareçam em seus jatos privados". Desde o começo das turbulências na economia, os aviões particulares se tornaram o símbolo da ostentação dos executivos de Wall Street, que na mente da população foram os responsáveis pelo colapso econômico. Para fugir desse estigma, muitos estão vendendo seus jatos usados e quem estava na fila por um novo desistiu.

Se antes esperavam-se três anos para comprar um avião particular, hoje se leva a metade do tempo. Mais: a cada cinco jatos existentes no mundo, um está à venda. Uma aeronave era tão desejada que a espera ganhava valor de mercado, fazendo com que algumas pessoas vendessem a posição na fila por até US$ 1 milhão. "O cenário mudou", diz Ricardo Nogueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). "Com a crise, muitos desistiram de comprar e outros alongaram o prazo. A maioria das fabricantes que vendiam de quatro a seis aviões por mês, está vendendo de um a dois. Há muita disponibilidade", explica Nogueira.

Com a redução da demanda, a Embraer cortou 20% do quadro de funcionários. E não foi a única a sofrer revés. A Bombardier prevê neste ano uma queda de 10% em relação ao ano fiscal 2008/2009, quando entregou 232 jatos. A americana Boeing teve 32 encomendas canceladas.

A escassez de crédito fez com que os compradores sumissem e isso também pode ser percebido no resultado da GE Capital, responsável pelo financiamento de 1,8 mil aviões no mundo, que apresentou lucro de US$ 12,2 bilhões - US$ 700 milhões inferior ao esperado. Só no Brasil, a empresa respondia por cerca de 60% das carteiras de crédito. "Havia uma demanda excessiva e as fábricas não conseguiam aumentar a produção. A tendência é o equilíbrio", aponta José Eduardo Brandão, diretor comercial da OceanAir Jatos Executivos. "Hoje, para comprar um Global, da Bombardier, leva-se cerca de um ano e meio", diz. "Antes, levavam-se até três anos." Apesar disso os preços de jatos novos continuam iguais.

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No mercado de usados, sobram vendedores e faltam compradores. O empresário Alexandre Negrão, dono do laboratório Medley, há vários meses estaria tentando se desfazer do seu Global 5000, estimado em US$ 50 milhões. José Salim Mattar Junior, presidente da Localiza, pôs seu Citation XLS à venda, mas acabou desistindo; e Marcus Elias, controlador do Laep, fundo que detém a Parmalat, estaria vendendo seu Citation 10, um King Air e um helicóptero Agusta.

Nos Estados Unidos, as empresas em dificuldades divulgam a oferta de seus jatos como prova de que buscam cortar gastos. O fundo de investimentos Carlyle Group colocou à venda seu Gulfstream G450 por US$ 30 milhões. O Bank of America está negociando três de seus nove jatos.

Até o jornal The New York Times anunciou seu Dassault Falcon 1997 por US$ 9,5 milhões. A rede de cafeterias Starbucks está se livrando de um Gulfstream 550, de US$ 45 milhões, e de um Challenger 604 avaliado em US$ 20 milhões. Do outro lado, o Citigroup desistiu de comprar um Dassault Falcon 7X após receber uma ajuda de US$ 45 bilhões do governo americano. Na Escócia, o Royal Bank of Scotland cancelou um pedido igual.

Mas nem todos criticam os jatos. O megainvestidor Warren Buffett disse ao canal CNBC que há coisas que ele nunca teria feito sem um avião. "É um erro demonizar as aeronaves." Buffett não disse isso à toa. Motivo: ele é o maior acionista da NetJets, uma das maiores empresas de aviação executiva do mundo.

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Fonte: Carolina Guerra (IstoÉ Dinheiro)

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